"Tudo o que ele sempre quis" de Anita Shreve
Irra!! Isto está na página 34 do livro e não passo daqui. Simplesmente, não consigo. Começo a olhar pela janela, a apreciar os pássaros, o sol, as nuvens. Tudo me parece tão mais interessante do que este livro.
Em contrapartida, literalmente, "engoli "A Saga dos Otori" de Lian Hearn.
São três livros, que retratam o Japão no período pré- Tokugawa. É uma história simples, que vai avançando ao longo da saga. Sem grandes "efeitos literários", Lian consegue mostrar o cenário, construir as personagens, dar-lhes vida, sentimentos. Tudo.
Portanto, em dois dias li estes três livros e ando há uma semana a tentar passar da página 34 do livro de Anita Shreve.
Impossível.
Já percebi que quando não consigo ler um livro e fico emperrada numa página, não vale a pena forçar a leitura.
Acho que sei o que me impede (interiormente) de continuar com Anita Shreve.
Abomino quando se exacerbam sentimentos na escrita; abomino mesmo, é quase físico. Dá-me vómitos.
Para melhorar a coisa, estão escritos na contracapa do livro de Anita Shreve os comentários do USA Today ["Viciante... Anita Shreve é magistral na forma como descreve o arrebatador impulso da paixão."]; do The Guardian [" Impossível de pousar".]; do Washigton Post ["Delicioso... Shreve no seu melhor".]; do Seattle Times ["Um estudo perspicaz sobre o desejo obsessivo... Um dos mais bem conseguidos romances da autora."]
Pois, não... não é viciante. É perfeitamente possível de pousar (inclusivamente deixá-lo a apanhar pó ou inadvertidamente deixá-lo na mesa do café). Não é delicioso. Se é perspicaz no estudo sobre o desejo obsessivo ... isso é questionável.
Simplesmente não suporto este tipo de escrita, trabalhada e elaborada, em que as palavras parecem ter sido colocadas lá, ao acaso (quantas mais palavras , melhor!), para retratar o mundo insano de um homem (ele é a personagem principal e fala no discurso direto, em jeito de quem conta a sua história), que fica obsessivamente agarrado a uma mulher que vê num incêndio - assim começa o livro.
"Perdemos" é realmente a palavra, porque não me revejo nisto, perco-me mesmo na descrição dos sentimentos da personagem. Não acho interessante a forma como a autora descreve a maneira como ele olha para o colo da mulher, como se fixa nela de uma forma obsessiva, com muitas palavras, uma verborreia que me empanturra.
Acho que me tornei numa leitora bulímica, com este livro.
Empanturro-me e depois vomito tudo.
Claro que já comecei a ler de novo várias vezes e outras tantas vomito as palavras a seguir.
E por aqui me fico, pela página 34. Finito!
Estou a fazer terapia para a minha bulimia de leitura.
O livro vai para a prateleira... escondido, lá pra trás.