terça-feira, setembro 10, 2024

A Pedagogia do Erro

Ora, erros ortográficos, todos nós cometemos. 
Ninguém se safa a um erro, a uma "gaffe", a uma frase mal pontuada, aqui e ali. Quando se trata de ensinar a escrever correctamente, há técnicas próprias para isso. 
Vejamos, por exemplo, uma pequena rubrica que passa todas as manhãs na RTP1 - Bom Português. 

A ideia é boa, mas é mal executada, em termos de conseguir, de facto, que as pessoas escrevam melhor.

 Aparecem sempre no ecrã duas hipóteses de resposta para escrever correctamente uma palavra. Por exemplo:

Como se escreve correctamente?

Alcachofra ou 
Alcaxofra 

A repórter da RTP1 vai para a rua e faz esta pergunta aos transeuntes, apresentando as duas respostas. Qual delas é a correcta? 

Chegando ao final da rubrica, aparece o mesmo ecrã, com as duas palavras. 
A hipótese correcta apresenta um a bola verde à frente e a errada tem uma bola vermelha, sobre a qual aparecem dois riscos, em cruz. 
Nada eficaz, em termos de ensinar. 
Quem pudesse ter dúvidas sobre a forma como se escreve "alcachofra", retinha na mente as duas maneiras e não apenas a maneira correcta. 
Porque as duas aparecem de novo no ecrã. 

A nossa mente não liga patavina à bolinha verde ou à bolinha vermelha. Regista, sim, o que vê: estão lá escritas as duas opções. 

Conhecendo o funcionamento da mente, em termos de imagens visuais, isto é pedagogia básica: um erro nunca ( NUNCA) se repete. 
Para que esta pequena rubrica seja eficaz, é fundamental que, na segunda vez em que as duas palavras aparecem na tv, serja apenas mostrada a correcta; sem bolas verdes ou vermelhas.

 Deveria aparecer apenas uma - alcachofra. 

O mesmo se aplica a tudo o que se quer corrigir ou implementar. 
Se pretendemos que uma pessoa diga correctamente "Gosto da praia e do mar", é isto que queremos que ela leia; é isto que escrevemos. 

Se não queremos que a pessoa diga "Acho que gosto da praia e do mar", nem sequer devemos escrever em lado algum. Muito menos escrever a frase e riscá-la por cima. Simplemente, escrevemos apenas o que é para ser dito.
 Quem realmente quer ensinar ou promover um tipo de linguagem diferente, deve conhecer bem as técnicas usadas para que a mente receba correctamente o que pretendemos transmitir. Basicamente, o que não é para ser dito, não se escreve. 
E pronto. 
Um erro não se repete, não se reescreve. Apaga-se. 
Fica apenas a forma correcta de escrever. A RTP deveria corrigir isto.

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