quarta-feira, abril 14, 2010

Ignorância

Tenho dado conta de que vivo na ignorância. Nada de que uma pessoa se possa orgulhar, imagino. Mas gosto, confesso, deste não saber coisas que não me interessam. É por isso que sou selectiva naquilo que vejo na televisão ou leio nos jornais. Importa saber questões de fundo da vida económica nacional, questões que nos envolvem, como alterações ao pagamento de impostos ou eventuais mudanças nos regimes da Segurança Social, pagamento de reformas, etc. Se, como cidadã, não posso fazer nada relativamente aos problemas no Haiti ou em relação a um congresso político qualquer, para quê preocupar-me com isso? Obviamente que não me regozijo com situações como o que aconteceu no Haiti; só posso fazer o que posso fazer. Uma dessas coisas, é não me alimentar desse tipo de sentimento. Outra, é colaborar com as instituições mundiais de apoio a tragédias desse género. Falar disso no café, não é algo que ajude. Pelo contrário. Ouve-se muito o "velho" comentário - pois... isto está uma desgraça! (quase instantaneamente, espera-se um outro comentário que também é chapa cinco - a culpa é do governo!). Não me vale de nada conhecer histórias que não me pertencem, como as histórias de violência doméstica; as histórias de facadas e tiros, por causa de uma faixa de terreno (estas já vêm do tempo dos meus avós, só que agora aparecem como se fossem realmente notícia , em certo tipo de jornais e tvs nacionais). Sem saber, ou querer saber, deste tipo de histórias, fica assim um cheiro estranho no ar, quando me encontro com pessoas que naturalmente tendem a debater o que se passa. - Já viste aquela coisa de a igreja que caíu todinha e só ficou a imagem de um santo? - Hum... não. - Deu ontem nas notícias, não viste? - Hum... não. Fica no ar um cheiro estranho, como se fosse bizarro que eu não saiba coisas "vitais". Rapidamente termina o assunto, porque também nada sei sobre o marido que matou a família à facada ou sobre o que disse ontem o Primeiro Ministro. Assuntos pessoais, coisas que, essas sim, são vitais, habitualmente, não se dizem. Palavra que gosto cada vez mais de saber o que cozinhou para o jantar aquele casal amigo, o que viu um outro amigo ao regressar da viagem que fez pelo Japão, numas bem merecidas férias ou como é que aquela minha amiga lida com o filho adolescente, que está a passar a "fase do armário". Pensar que, durante o chamado prime time televisivo, a maior parte das pessoas está a jantar e a ver notícias, dá-me a volta ao estômago! Por isso, toda a gente sabe da igreja que caíu ou das chuvas que destruíram não sei quantos hectares não sei onde, mas são muito menos os que sabem realmente como preencher o formulário do IRS. Afinal, o que é mais importante? É uma questão de prioridade. Pessoalmente, prefiro a minha ignorância. A tal que deixa um cheiro estranho no ar, em conversas gerais? Essa.

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