
Tinha 15 anos quando o viu pela primeira vez.
Viu-o na papelaria, a fazer compras para os livros escolares do 10º ano, tal como ela.
Achou-o parecido com um rapaz charmoso que tinha conhecido nesse verão, na praia.
Daí até ao "flash", foram segundos!
Foi como se tivesse levado uma pancada na cabeça.
Descobriu que andavam na mesma escola.
Descobriu que ele era um daqueles rapazes populares, "filho de gente rica", como diziam na cidade.
Isso não era importante para ela.
Era importante que ele estivesse presente, no mesmo canto da escola, todos os intervalos.
Era importante que ela o pudesse simplesmente ver, diariamente.
Até que ele começou a ir beber café perto da casa dela.
Começou a olhá-la pelo vidro, quando ela passava para casa, de mochila às costas.
- Ele gosta de mim! - pensava ela , feliz.
Nos dois anos que se seguiram, ela viveu esta paixão, sempre à distância. Acompanhava os passos dele, conseguiu até uma fotografia dele, num baile escolar qualquer, agarrado a uma outra miúda - diziam que era a namorada dele. Ela sofreu com isso.
Ele teve várias namoradas, ela continuava a sofrer, com aquela estranha sensação de impotência.
Algures, no meio deste percurso, amigos comuns tentaram apresentá-los, para que se conhecessem pessoalmente. Ela fugiu, como o diabo da cruz. Percorreu a escola inteira a correr, o coração a bater descompassadamente (e não era da corrida!).
Nunca chegaram sequer a falar um com o outro.
A escola acabou. Veio a faculdade. A mudança dela para outra cidade.
Anos passaram. A vida seguiu.
Um dia, ela voltou.
Numa festa de aniversário, foi com os amigos dançar.
Ele estava na mesma discoteca. Mais velho, mais gordo, muito menos atraente. De óculos, fato e gravata.
Foi com espanto que deu com ele, ao lado, no balcão do bar, a pedir uma bebida, ao mesmo tempo que ela. E só nesse dia lhe ouviu a voz: aguda, para voz de homem. Aguda e desagradável. Todo ele lhe era desagradável.
Pegou no copo que lhe estenderam e, devagar, ela voltou para a pista.
Sorria, enquanto caminhava.
- Foi este o meu primeiro amor!
Platónico, distante.
Aquele seu primeiro amor, nunca falado, nunca vivido a dois, parecia-lhe agora tão longe, como ela própria estava dos seus 15 anos.
Por isso, ela diz hoje que "o primeiro amor" não importa.
O que conta mesmo vai ser o amor que estiver a agarrar-lhe a mão, quando a vida lhe chegar ao fim.
[Foto de Fusco, Macbradaigh & Conway]
(Texto publicado originalmente a 14 de Abril de 2006)
1 comentário:
Concordo contigo, o primeiro amor não é o mais importante. :o)))
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