Ou é moda, ou não sei bem o que se passa.
Agora, tudo e todos falam e escrevem sobre o "bem-estar"; ele é revistas, ele é debates; ele é "medicinas". Enfim. O que importa é o "bem-estar".
Isto veio a propósito de ter lido algures que um cardiologista de uma universidade de medicina, algures no mundo, ter chegado à conclusão que pensar de forma positiva faz bem ao coração. (!!!)
Ora, eu fui criada numa cidade pequena, em que tudo chega mais tarde, em que as modas só aparecem meses depois de serem "modas", etc.
Os meus pais, principalmente a minha mãe, gostava muito da naturologia e de um médico em particular - o Dr. Fernando Ascenção que, ainda hoje está referido na parede de uma Escola que ensina técnicas de Naturologia, em Lisboa. A memória, quando falha, é uma chatice, não me lembro do nome da Escola. Portanto, estamos a falar de 1970s; por aí. Nos anos 80, eu tratei uma anemia com o Dr. Fernando Ascenção, também. Mudei comportamentos alimentares, e tomei, claro, suplementos para fortalecer o sangue.
Tudo remonta, em Portugal a um médico italiano, radicado por cá, mais concretamente em Paço de Arcos - Indíveri Colucci. A ele se devem muitos dos conhecimentos de naturopatia - ou seja, o tratamento total do corpo. Não tratar um sinal ou sintoma; tratar o que está a causar esse sinal ou sintoma.
Cresci a ouvir o nome de Indiveri Colucci e a ler a revista que ele publicava e que nos chegava via CTT.
Portanto, naturopatia, naturologia e afins, não são modas recentes. Este tipo de estrutura de tratamentos vem de mais longe, assim como a homeopatia. A Homeopatia apareceu na Alemanha, em 1796, através do médico Samuel Hahnemann, que viveu entre 1755 até 1843.
O que me incomoda, agora, é que toda a gente quer o famoso "bem-estar", sem perceber que todo o conceito social mudou. Com ele, mudaram-se os nossos hábitos mais comuns, como ir a pé de casa para o emprego (agora, pedem-nos para caminhar mais- pudera!); semear os produtos que consumimos, no nosso próprio quintal. Coisas simples destas que foram caindo no esquecimento. Foi a quebra de hábitos de vida, uma mudança radical.
Não admira, portanto, que hoje haja mais maleitas que derivam, simplesmente, de estarmos mais parados ou, por oposição, andarmos num ritmo frenético.
Não há meio-termo, equilíbrio. Aceleramos, logo de manhã, para chegar ao emprego a tempo e horas; quando chegamos a casa ao final do dia, paramos devido ao desgaste - seja emocional ou físico - a que nos sujeitámos durante o dia. Depois, comemos o que nos impingem. Não comemos os alimentos que nós próprios semeamos. Os meus avós comiam o que semeavam e eu também, quando era criança.
Bebia leite de vaca, acabado de ordenhar e de cabra também; as minhas férias eram passadas na aldeia da minha avó, onde as mulheres se juntavam para fazer o queijo e nós depois bebíamos aquilo que se chama o soro ( a aguadilha que fica depois de se fazer o queijo).
Bom, de repente, tudo o que se denomina "terapias alternativas" começou a ficar na moda.
Não são alternativas, são complementares. A medicina convencional pode aprender com os antigos, pode aprender a tratar todo o ser humano - desde as emoções às maleitas físicas.
Ler, então, que um determinado cardiologista chegou à conclusão que pensar positivo faz bem ao coração... é mais válido do que o que o Dr Indiveri Colucci vinha dizendo há quase 100 anos?
Claro que precisamos de nos certificar da formação daqueles a que recorremos. Não questionamos o nosso médico de família, porque fez o curso "normal" de medicina. Mas, porque não?
Há dezenas de anos que há homens e mulheres a procurar tratar-nos de forma mais natural. Ou seja, uma alimentação mais completa, uma fisicalidade mais activa - que não implica passar horas num ginásio qualquer, basta caminhar a pé para o emprego.
Porque é que é mais credível que um médico - seja qual for a especialidade - nos diga que pensarmos positivamente faz bem ao coração? E depois, com o aparecimento dois chamados "gurus de auto-ajuda", que dizem exactamente a mesma coisa, estes já são todos uma charlatanice pegada, mas o Dr Cardiologista não é - e só agora chegou à conclusão que pensar positivamente faz bem ao coração?
E bom senso, não há? Qualquer pessoa, com um mínimo de bom senso, chega à mesma conclusão que um cardiologista que passou anos a estudar para ser médico.
Simples.
A minha mãe teve uma epicondilite - uma infecção num cotovelo, que a impedia de realizar o seu trabalho. Chamam às epicondilites "as doenças do tenistas", porque é frequente um tenista infectar os tendões do cotovelo, por razões óbvias. O médico de família, de imediato, disse, de forma peremptória: "a senhora vai fazer infiltrações. " A minha mãe informou-se: uma infiltração é a inserção de uma pequena cápsula no cotovelo que vai largando cortisona.
Só que a cortisona tem efeitos secundários desagradáveis (isto para ser suave). A minha mãe recusou fazer infiltrações. Consultou outro médico que lhe disse, de imediato : "a senhora não vai fazer nada disso; vai fazer fisioterapia e fortalecer esses músculos". Feliz da vida, a minha mãe não teve mais dores no cotovelo, desde que começou com a fisioterapia. Em caso de uma situação de recaída, em que há mais dores ou desconforto, regressa à fisioterapia e à hidroginástica.
Um pormenor - a minha mãe tem 71 anos. Faz cerca de 5 quilómetros todos os dias a pé (porque não tem carro); aos fins de semana faz dez quilómetros a pé. É membro do Clube de Montanhismo e sai frequentemente para caminhadas de dia inteiro.
Recordo, ela tem 71 anos.
Como estaria hoje, se vivesse de infiltrações de cortisona, se não se mexesse ( tem duas hérnias discais nas cervicais (pescoço) e não usa colar cervical, nem pensar!!! Mexe-se, move-se, caminha. Alimenta-se do que a terra lhe dá - deviam experimentar um chá de tília da árvore que cresce no nosso quintal!! Basicamente aquilo que sempre fizemos, antes de nos tornarmos acelerados para o emprego e parados quando chegamos a casa.
A formação dos nossos médicos deveria ser melhor, no seu todo. Felizmente, a minha médica particular é médica "médica", formada pela Faculdade de Medicina de Lisboa e tem a especialização em Homeopatia, feita em Londres. Claro! Não mudo de médica, enquanto ela me quiser tratar! E isto não é moda, é uma forma de vida!
Não quero minimizar a importância da medicina convencional. Gostaria, sim de a ver melhorada. A medicina convencional salvou-me a vida, há cerca de cinco anos. Mas não posso dizer que foi só a medicina convencional, porque além dos tratamentos "convencionais " que fiz, estava a ser tratada também pela minha médica homeopata, estava a beber o charope de aloé vera, feito pelos Monges na zona de Benfica, fiz bioressonância e psicoterapia. Tratar o todo, lidar com tudo.
Que não seja moda, que seja consciente, uma opção de vida. Aliás, uma forma de viver.