segunda-feira, novembro 04, 2024

O amor incondicional

Vivi vários anos com a "teoria" do amor incondicional.
Algo a que nos devemos agarrar como uma tábua de salvamento, que deve estar sempre ali, principalmente quando algo na vida nos toca em sítios que doem.
A minha mente sabe que, se me "toca" e dói, é porque a ferida é minha.
Então aparece a tábua de salvamento do amor incondicional, como se fosse possível nós amarmos sempre e sem condição.

Pois para mim não é. O amor - nas suas mais variadas formas -, o respeito, ganham-se. E tal como se ganham, também se perdem. Por isso, como o tempo é um professor certeiro, vou vendo sempre, e com mais clareza, de quem gosto e de quem não gosto ( e vice-versa, claro).

Costumava aparecer um anjinho de um lado, ao meu ouvido "tens de amar, senão és má; ajam as pessoas como agirem, tens de amar". 
Do outro lado, o diabinho, com direito a ser encarnado, com cauda em bico e tudo "não tens de amar quando as pessoas, através dos seus actos, não merecerem o teu amor e o teu respeito".
E agora, acho que estou mais "má" e nesta luta constante anjinho/diabinho nos ouvidos, o diabinho faz-me mais sentido por dentro.
Gosto, gosto. Não gosto, não gosto.
E não há sequer esforço para te tornar uma pessoa "boa" por gostar dos que, ao longo do tempo, vão sendo também "maus" para mim, projectando as suas próprias inseguranças.

Encontrei isto numa entrevista com Mariela Michelena, autora do livro "Mulheres Mal-Amadas" que se aplica a tudo na vida, não só no contexto de amor entre casal:

"O amor incondicional, que soa tão bem no papel, é um amor doentio que, para começar, não leva em conta o destinatário desse amor. Independentemente do que o outro faz ou diz, se nos trata bem ou mal, se quer ou não estar ao nosso lado, o amor incondicional continua firme, incólume, surdo e cego perante a realidade. Não deve ser motivo de orgulho sentir esse tipo de amor por alguém ou ser objecto desse tipo de amor. O verdadeiro amor leva em conta o ser amado, com todos os seus defeitos e virtudes; as coisas que gostamos ou não no outro, coisas que aceitamos apesar de não nos agradarem e situações pelas quais estamos dispostos a passar, por muito que gostemos da outra pessoa."

Hoje, acho natural que o amor cresça por algumas pessoas e desapareça completamente por outras pessoas.
Não é mau, nem é bom. Não há anjinho, nem diabinho.
Apenas um sentir: estar disposta a suportar e aceitar ser desrespeitada e não ser amada como sou, faz de mim uma pessoa melhor? Faz-me sentir melhor por dentro?

Pois, não faz!
Lá se vai "teoria" do amor incondicional.

(Publicado a 11 de Setembro de 2008)

1 comentário:

Nilson Barcelli disse...

A palavra incondicional é redutora, porque amar sem condições até nem fará sentido.
O mais próximo disso talvez seja o amor de mãe.
Para a amizade, que é muito mais racional, sendo incondicional, ela é cega, sem critérios e, por isso, nem será muito saudável.
Enfim, a esta hora dependo incondicionalmente de um bom café... eheheh...
Querida amiga, fica bem
Um beijo