
O que vamos perdendo na vida?
O que faz com que certas perdas sejam tão sentidas e outras não?
Quantas dores de perdas carregamos e não nos apercebemos?
Desde que comecei a interessar-me pelas áreas das ciências humanas, desde o meu primeiro contacto com psicoterapeutas, surgiu sempre esta pergunta: o que é que perdeu? Quem perdeu?
Tantas voltas esta cabeça deu até perceber quem é que tinha perdido: alguém que deixou uma marca de ausência e de dor que estava tão clara para os outros e para mim não.
Foram mais de dez anos até que veio a descoberta, o tal clique que surge inesperadamente. Ah! Entendi! És tu que me fazes falta!
Além desta perda, que era tão evidente para os profissionais de ciências humanas, carregava também o peso da culpa dessa perda. Aceitei, dentro de mim, que a culpa dessa perda era minha.
Disseram-me, de forma subreptícia e subtil. Era eu tão pequena! Tão pequena mesmo, que me pareceu óbvio que um acto meu, um acto de criança que deu em acidente - cuja pequena cicatriz carrego (coisa curiosa, está à vista e ninguém a vê, mas eu sei que está lá...) tenha sido a razão daquela perda. Um acto meu provocou, de forma indirecta, a morte de alguém que eu amava.
Duas dores numa só: a perda e a culpa dessa perda!
E o que acontece, afinal, quando uma dor de perda é tão forte, que os que trabalham diariamente com as emoções humanas vêem, e nós nem temos noção da importância que isso tem, ao longo da nossa vida, nos nossos pensamentos, nos nossos actos, nas nossas emoções? Que consequências traz isso para uma personalidade em formação?
"Bad girl!"
"You are a bad girl"
Até ao momento em que decidimos, de forma consciente, não aceitar a responsabilidade dessa perda e deixamos cair a culpa.
Há tantas coisas que acontecem, de facto, que magoam, e que não são culpa de ninguém! Acontecem, porque sim.
Da mesma maneira, caem as folhas no Outono, põe-se o sol ao entardecer, o mar tem ondas todas diferentes ... esse é o fluxo natural da vida. Da natureza. Quem é culpado disso?
É uma maldade fazer crer a alguém que é a culpada de algo que aconteceu, que doeu e cuja responsabilidade é nula! Principalmente se esse alguém é uma criança, que já sofre a dor da perda, que nada fez para contribuir para essa perda, muito pelo contrário.
Culpá-la por isso é uma crueldade!
(Publicado originalmente a 3 de Março de 2007)
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