
Pegar no caderno, abri-lo, sentir o cheiro do papel, pegar na caneta ou na esferográfica (raramente no lápis) e preencher aquele espaço branco de letras, pontuações, parágrafos, acentos. Eventualmente, acabo por teclar o texto no computador, mas acreditem, antes de estarem aqui, todos estes textos passaram pela mão, pela caneta, pelo caderno e é lá que permanecem. É que o acto de escrever, pelo meu próprio punho é de um sabor incrível! Claro que há cá em casa cadernos e cadernos com anos de escrita espontânea, sem qualquer intenção de grandiosidade literária. Nunca me deu para a poesia, por exemplo. Acho um exercício de escrita dificilíssimo... não me acho capaz, sequer. Admiro quem escreve poesia.
Não sou muito disciplinada com a letra, confesso. Mas, desde que eu entenda o que escrevi, lá vai andando. Tudo o resto está lá, a pontuação, os acentos, os parágrafos, nada de abreviações (esse costume nem me ficou da faculdade, altura em que era preciso escrever bem rápido).
Já percebi que não se trata de perfeccionismo, nem de um qualquer preciosismo, mas sim do mais puro prazer.
Uma emoção quase diria intra-uterina, pelas histórias que a minha mãe conta; parece que, sendo eu pequena, bébé ainda, se me quisessem sossegar era colocar-me à frente um livro para pintar, um caderno para rabiscar e montes de lápis de cor e esferográficas (alturas em que, pelos vistos, me pintava e gatafunhava a mim própria também - assim se salvavam as paredes lá de casa). E nestas alturas, saíam-me, segundo a minha mãe, verdadeiros tratados de riscos e rabiscos, bolas, traços, desenhos indecifráveis... verdadeiras pérolas literárias para um bébé.
Pois ainda hoje, o simples facto de abrir o caderno à minha frente, folhas imaculadas, e uma esferográfica, tranquiliza-me. Depois, lá vêm os malabarismos da escrita: traços, rabiscos, bolas, enfim, letras. O que me separa hoje daquele bébé que gatafunhava no papel, é que agora dá para perceber os gatafunhos. Uso o código comum da escrita, o alfabeto, uso uma determinada língua, regras de escrita, pontuação.
Mas, palavra que às vezes me apetece largar as regras e, simplesmente, gatafunhar, hieroglifar, riscar, só pelo prazer de encher uma folha branca com coisas minhas.
Amo a escrita e acho que ela me corresponde.
Foto de Amora Silvestre
(Texto publicado originalmente a 11 de Janeiro de 2007)
2 comentários:
Evito escrever à mão, pois dá muito trabalho a "passar a limpo" para o computador.
Para além disso no PC é muito mais fácil corrigir, alterar, etc. Nem ficam marcas e gatafunhos...
Ao contrário de ti, deixei a prosa porque me dava muito mais trabalho do que a poesia. Esta é feita com menos palavras e as ideias podem ser as que quisermos. Há muito maior liberdade... E como eu sou preguiçoso...
Beijos.
adoro escrever com caneta e papel, amo brincar com as letras e grafia :)
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