quarta-feira, outubro 30, 2024


...brincava com os pedacinhos mais ondulantes do cabelo; as pontas, algumas espigadas, picavam-lhe as pontas dos dedos.

recordava passadas algumas horas.

acho que te amo... era a frase que soava em ecos permanentes mesmo dentro da cabeça, de onde os caracóis fluíam em catadupa; de olhos fechados, cabeça inclinada, ouvia o cabelo roçar nos dedos... acho que te amo... acho que te amo...

ainda se lembrava do que veio a seguir, daquele sonoro romper de uma membrana, mesmo no centro do peito, do rasgar dessa cortina, do palpitar, do batuque do coração....

acho que te amo.

uma forte emoção percorreu as estrelas, num zumbido de cem vespas naquela noite; veio uma forte tontura, levada numa ventania como a que perpassa nos frisos da janela do quarto, em dias inverniços;

anos passados sobre este "acho que te amo", o cabelo já não tinha caracóis a tocar nas pontas dos dedos e a memória daquelas estrelas que soavam a vespas, daquela brisa de verão que parecia uma tempestade de inverno, tinham agora, apenas, o som estranho daquela primeira paravra... acho.

Acho.
pois, ela não ouviu ... amo-te.
acho ... fez toda a diferença.

[Foto de Amora Silvestre]

(Texto publicado originalmente a 25 de Junho de 2006)

8 comentários:

Pete disse...

E quando alguém não ouve à primeira, nem à segunda, nem à terceira o que é que se faz...?

É simples, continua-se a dizer até a pessoa ouvir.

Não acho que te amo. Sei que te amo. :o)))

Amora Silvestre disse...

Quando a pessoa não ouve é porque é surda :o)))

E tu sabes que amas?
Eu pensava que quando se ama sente-se... não se sabe.
E nós do outro lado, também sentimos quando a outra pessoa sente. Não "sabemos", sentimos.
É uma questão de escolha da palavra menos cerebral (saber) e substituí-la pela mais emocional(sentir).

Pete disse...

Ok, tens razão, não se sabe que se ama, sente-se. No entanto ao sentir que se ama, sabe-se que se ama. Ao sentirmos alguma coisa e tomarmos consciência disso, ficamos a saber que é isso que sentimos.
E de acordo com esta teoria, também não se "acha que se ama", não há lugar para "achar que" porque "achar que" é também cerebral. :o)))

Amora Silvestre disse...

Precisamente :o)
That's my point!

Miguel J. T. V. disse...

Bonito e pertinente sim!

Empregado de balcão disse...

Para além do texto estar excelente. De mostrar que uma palavra pode mudar muita coisa, tenho que te dizer que andas a tirar grandes fotografias.

Parabéns. Onde fica esta beleza??

Amora Silvestre disse...

É o parque municipal de Aveiro :o)

Nilson Barcelli disse...

Achar é uma palavra prudente.
No amor só há certezas, mesmo as erradas...
Boa fotografia.
Beijinhos.